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Juízes decidem: nem uma hora a mais
Recusa de trabalho para além do horário normal pode bloquear sistema
Os magistrados judiciais decidiram, ontem, em Coimbra, não trabalhar para além "do exigível" e apenas no horário normal de funcionamento dos tribunais (9 horas às 17 horas com uma hora para almoço), medida que terá como efeito, segundo garantem, "o bloqueio total" do sistema. E caso a política do Governo se mantenha admitem recorrer à greve. No caso da assembleia-geral extraordinária da Associação Sindical de Juízes foi definida a data de 30 de Setembro como limite. Se até aí não registarem "evoluções positivas" poderá ser decretada uma greve. Já os magistrados do Ministério Público não foram tão específicos, mas admitem, igualmente, a greve.
Para já os magistrados judiciais não vão estar disponíveis para trabalhar "para além do exigível", que é, segundo Baptista Coelho, da Associação Sindical de Juízes, "o que todos têm feito e assim tem garantido o funcionamento do sistema". No caso dos juízes, a medida entrará em vigor imediatamente, não tendo ficado definida qualquer data na assembleia-geral extraordinária dos magistrados do Ministério Público.
Segundo garantiu António Cluny, do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, o sistema "não funciona sem o esforço suplementar dos magistrados que trabalham muito para além do horário normal". Sem esse empenhamento "habitual", assegura que "será o bloqueio total". Baptista Coelho não vai tão longe, considera esta medida "uma séria advertência ao Governo que andou a propalar que a moprosidade da justiça era imputável às magistraturas".
Além do horário, a assembleia-geral extraordinária da Associação Sindical de Juízes aprovou também que, a partir de agora, os magistrados passarão "a cumprir rigorosamente as formalidades legais" no que toca, por exemplo, à utilização de salas de audiência. Baptista Coelho lembrou, a título de exemplo, que "há muitos julgamentos que são feitos em gabinetes, de uma forma pouco digna, mas que tem garantido o funcionamento do sistema".
Por outro lado, os juízes admitem que alguns julgamentos, mesmo que já estejam marcados, venham a ser adiados, se a sua realização não permitir ao juiz trabalhar e proferir as decisões durante o horário normal do funcionamento dos tribunais.
Os juízes reclamam ainda do Governo "o cumprimento de obrigações que há mais de um ano foram assumidas", nomeadamenhte a "manutenção do subsistema de saúde dos serviços sociais do Ministério da Justiça". Se até 30 de Setembro nada for feito, admite-se a possibilidade de ser decretada uma greve. Esta é a reacção ao que os juízes consideram, como frisou Baptista Coelho, um "afrontamento directo", por parte do Governo, "às magistraturas, ao poder judicial e à independência dos tribunais".
Já durante a tarde, os magistrados do Ministério Público deliberaram mandatar a direcção do Sindicato para, junto de todos os órgãos de soberania e forças políticas e sociais, esclarecer sobre as "apreensões que uma possível concretização cega e destrutiva da anunciada política do Governo sobre o estatuto das magistraturas pode ter nas condições de exercício normal das funções judiciais".
Vão, por outro lado, propor às restantes estruturas representativas (juízes e funcionários), se necessário, uma iniciativa conjunta de "demonstração do que pode resultar da descaracterização do estatuto socioprofissional das magistraturas".
Por fim, aprovaram vir a decretar, se necessário, "todas as formas legais de luta, incluída a greve, caso se verifique que o essencial do estatuto socioprofissional económico das magistraturas e concretamente do Ministério Público serão postos em causa definitivamente".
"É altura de radicalizar posições"; "Este é o momento de resistência. É altura de radicalizar posições". Este era o tom geral das intervenções que, ao longo da tarde de ontem, foram feitas pelos magistrados do Ministério Público (esta foi a única reunião aberta à imprensa).
Num ambiente de tensão, houve quem radicalizasse o discurso, comparando o que se passa actualmente com o tempo do "fascismo". Ao longo da reunião, não faltaram os apelos à necessidade de "ensaiar estratégias de unidade com outras estruturas" contra esta política do Governo. António Cluny chegou mesmo a dizer para não se preocuparem com as férias judiciais. "São só para o próximo ano e não sei se este Governo chega lá", ironizou. Ao longo da reunião, houve também quem lembrasse que a situação de descrédito da justiça apenas se verificou depois dos tribunais "passarem a atacar os poderosos". Alguns preferiram falar da falta de condições de trabalho. Foi o caso de Carlos Oliveira que lembrou a resposta que obteve quando pediu um veículo para fazer deslocações na fase de investigação de um mega-processo. Conseguiu "um passe de autocarro...a muito custo".
in JORNAL DE NOTÍCIAS
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Possível caos nos Tribunais
O caos vai chegar aos tribunais. Juízes e magistrados do Ministério Público (MP) deliberaram uma espécie de "greve de zelo", devendo trabalhar apenas dentro do horário do funcionamento daquelas instituições, e somente se forem observadas todas as formalidades legais quanto à utilização das salas de audiência, admitindo avançar para a greve total se até 30 de Setembro o ministro da Justiça não resolver as suas reivindicações.
Estas decisões foram tomadas nas assembleias gerais extraordinárias da Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP) e do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) realizadas ontem, em separado em Coimbra. A ASJP reuniu de manhã, num Palácio da Justiça que se revelou pequeno para os 350 participantes. Estiveram no mesmo espaço, cerca de 250 magistrados do MP. No final, as conclusões foram semelhantes. Ambas as direcções ficaram mandatadas para decretar todas as medidas que entendam adequadas e necessárias, incluindo a greve, caso não haja evolução positiva na condução da política da justiça até 30 de Setembro.
Alexandre Baptista Coelho e António Cluny, presidentes da ASJP e do SMMP, respectivamente, estão de acordo num ponto fundamental "As acções de protestos serão concertadas por ambas as entidades". Neste sentido, vão reunir nos próximos dias para acertar a forma de concretizarem a medida de protesto que, para já, vai avançar - trabalho dos magistrados apenas durante o horário de expediência dos tribunais, e sempre na sala de audiência quando estiver em causa uma diligência que a isso a lei obriga. "Por vezes as conferências entre as partes realizam-se no gabinete do magistrado porque não há sala disponível. Agora isso acabou, assim como acaba a preparação de diligências aos fins de semana e durante a noite", garantiu o presidente da ASJP, explicando que a eficácia dos tribunais tem sido conseguida muito à custa do esforço pessoal e familiar dos profissionais e, na maior parte dos casos, sem condições de trabalho.
Revolta. Toda a magistratura, judicial e do MP, está indignada pela forma como o ministro da Justiça colocou a questão das férias judiciais - "querendo dar entender que os culpados pela morosidade são os magistrados", explicou António Cluny, recordando que, além do mais, o governante reuniu um grupo de sábios para debater os problemas do sector deixando de fora os profissionais do foro. Acrescenta-se a isto o facto de o Executivo ter anunciado políticas restritivas para os funcionários da administração pública, sem que o ministro da tutela tivesse chamado os operadores judiciários para lhes explicar até que ponto tais medidas afecta o seu estatuto socioprofissional - congelamento das carreiras, direitos socais, entre outras.
"Não abdicaremos do nosso estatuto", garantiu António Cluny. "Estamos preocupados pela forma demagógica e arrogante como tem sido a política governamental para a justiça, desprestigiando as instituições judiciárias", acrescentou Baptista Coelho.
in DIÁRIO DE NOTÍCIAS
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Juízes querem saber número de processos
Contingentação. Os juízes querem que lhes seja indicado qual o número de processo que devem julgar num determinado período de tempo. Chama-se a isto contingentação, e pode fazer aumentar muito mais a pendência processual.
Recorde. Nunca antes se tinham juntando tantos juízes e magistrados do Ministério Público no mesmo local. Entre procuradores e juízes, eram cerca de 700 a demonstrar a sua indignação contra o poder político e, em especial, contra o Governo. Mulheres e homens da justiça disseram-se injustiçados.
Férias. A proposta de alteração às férias judicias apresentada pelo ministro da Justiça foi rejeitadas pelos juízes. "Não conduz a uma melhoria do sistema nem garante aos profissionais do foro os direitos constitucionais assegurados a qualquer cidadão", disseram. O Governo propôs o gozo de férias entre 15 de Julho e 31 de Agosto, permitindo também a dispensa de serviço seis dias por ano.
Solidariedade. Juízes e magistrados do MP contaram com a solidariedade dos advogados, funcionários judiciais e das diferentes centrais sindicais do país.
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"Vingança de políticos contra magistrados"
"Depois do processo Casa Pia, os políticos prometeram vingança contra o poder judicial". Este desabafo de um magistrado judicial presente na assembleia geral dos juízes portugueses, efusivamente aplaudido, exprimiu o sentir de uma classe visivelmente injustiçada e magoada. Na parte da tarde, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), António Cluny, provocou aplausos ainda mais estridentes quando aconselhou os colegas a não se preocuparem a anunciada alteração às férias judiciais. "Não sei se este Governo chega até lá".
Nas duas assembleias gerais realizadas ontem em Coimbra ficou claro que o ministro da Justiça, Alberto Costa, tem os juízes e magistrados dos MP de costas voltadas para si. Mas o azedume estende-se a toda a classe política. "Nunca a magistratura foi tão atacada. Nunca fomos tão humilhados", gritou um juiz na reunião da manhã, referindo-se ao que se passou num dos programas "Prós e Contras", da RTP e insurgindo-se contra o que ali disse Alberto Costa. "Nunca ninguém denunciou as mentiras que foram ditas", atestou, para concluir o ministro é politicamente incompetente". Um outro colega acrescentou: "No pós-processo Casa Pia, o que se tem visto é o ataque dos operadores políticos aos tribunais e o ataque à independência e imparcialidade dos magistrados".
A magistratura sente-se odiada pelo poder político e, em especial, pelo responsável pela pasta. "Quis passar para a opinião pública a ideia de que os magistrados são os culpados pela morosidade nos tribunais", lamentou o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, acusando Alberto Costa de recorrer à demagogia para justificar a alteração das férias judiciais. Ainda por cima, frisou, "apresentou uma proposta "inexequível, que é uma aberração jurídica". António Cluny, presidente do SMMP, avisou "Não aceitaremos as culpas que não nos pertencem", criticando o Governo de se escudar por trás da "encenação de um défice" para avançar com medidas que não prometeu aos eleitores".
in DIÁRIO DE NOTÍCIAS
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SE A POLÍTICA PARA A JUSTIÇA NÃO MUDAR
Juízes admitem fazer greve depois de Setembro
Os juízes portugueses poderão recorrer à greve se até 30 de Setembro o Governo não alterar a política para a justiça, decidiu a assembleia geral da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), que esteve reunida no Palácio da Justiça em Coimbra.~
De imediato, os Juízes não realizarão trabalho fora do horário legal de trabalho, recusando levar processos para estudar em casa. Reunidos em assembleia extraordinária, no Palácio da Justiça de Coimbra, os magistrados judiciais admitiram a realização de uma greve, “caso não haja evolução positiva na condução da política para a justiça” até àquela data.
Uma eventual paralisação destes profissionais, entre outras medidas “adequadas e necessárias”, será decretada pela direcção da ASJP, depois de ouvido o conselho geral. No final da reunião, o presidente da associação, Alexandre Baptista Coelho, disse aos jornalistas que, desde ontem, os juízes manifestam-se indisponíveis “para continuarem a trabalhar para além do exigível, e muitas vezes sem o mínimo de condições”.
Baptista Coelho frisou que os juízes têm trabalhado nas actuais condições “para manter o sistema em funcionamento”. A proposta da direcção aprovada pela assembleia prevê, no imediato, que os magistrados judiciais cumpram, designadamente, a “rigorosa observância das formalidades legais quanto à utilização de salas de audiências”, devendo estas “decorrer apenas durante o horário de funcionamento dos tribunais”. “Esta é uma séria advertência aos Governo”, disse Baptista Coelho.
in O PRIMEIRO DE JANEIRO
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Férias judiciais não implicam paragem dos processos
As férias judiciais são uma medida de gestão do sistema que se baseia no "abrandamento do funcionamento" dos tribunais durante dois meses, como explica António Cluny (Sindicato dos Magistrados do Ministério Público). Nesse período (de 15 de Julho a 15 de Setembro) apenas se mantêm funções essenciais, relacionadas com processos urgentes.
Isto não quer dizer, segundo explica, que os magistrados estejam de férias ao longo de todo esse período. Aliás, esta medida "permitia que muita gente colocasse em dia serviço que não tinha realizado, por falta de tempo, durante o período normal de funcionamento". Isto porque Portugal é um dos países "com um maior número de carga horária em diligências públicas (julgamentos, interrogatórios)".
Como referiu, durante a reunião dos magistrados, o procurador Carlos Teixeira (do processo denominado "Apito Dourado"), que diz não gozar, há vários anos, mais do que três semanas de férias por ano, quem pensa que os processos estão literalmente parados, "só pode padecer de ignorância".
Com este sistema, os magistrados geriam o seu tempo e gozavam "as suas férias nesse período", fazendo-o "em função do serviço que tinham", esclarece António Cluny. A partir do momento em que este sistema de gestão é retirado, o magistrado está convencido de que "se vão criar problemas complexos". Está mesmo convicto que "o sistema vai ficar completamente desarticulado".
in JORNAL DE NOTÍCIAS
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Gestores medíocres
O presidente da Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA), Carlos Pires, afirmou hoje, em Coimbra, que Portugal foi governado por "gestores medíocres" nas últimas décadas.
"Temos sido governados por gestores medíocres", disse o tenente-coronel Carlos Manuel Alpedrinha Pires, ao intervir, como convidado, na assembleia geral extraordinária da Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP).
O presidente da AOFA acusou os sucessivos governantes de serem "incapazes de fazer contas certas" e "incapazes de reestruturar" as instituições tuteladas pelo Estado.
Carlos Pires criticou o Governo de José Sócrates pelas medidas tomadas em Maio para os sectores da administração pública.
"Estamos irredutíveis perante este ataque aos sectores da soberania nacional", sublinhou, alertando para a situação "muito preocupante" que se vive nas unidades das Forças Armadas, de norte a sul do país.
Em declarações à agência Lusa, aquele militar deu o exemplo da participação de sargentos, apesar da proibição legal, na manifestação nacional de trabalhadores da administração pública realizada sexta- feira, em Lisboa.Carvalho da Silva (secretário-geral da CGTP), Jorge Santos (secretário-geral adjunto da UGT) e António Cluny (presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público) foram outros dos oradores que intervieram na sessão, manifestando solidariedade aos juízes portugueses.
in AGÊNCIA LUSA