VASCO LOBO XAVIER RESPONDE A MIGUEL SOUSA TAVARES
«I. De tempos a tempos, MST tem um ataque de Vasco Pulido Valente e produz textos de forte pendor crítico bastante interessantes, que leio com agrado. Pena é que por vezes o faça de forma negligente ou leviana, como aconteceu com o artigo de hoje, no Público, através do qual pretendeu atacar as magistraturas judiciais e do MP.
Independentemente das críticas que lhes queira fazer, não se compreende que MST, qual vulgar homem da rua ou o Ministro da Justiça, se refira por duas vezes a "férias", dizendo que os juízes reclamam por férias (coisa que nunca ouvi falar) e que têm mais de dois meses de férias, o que uma pessoa informada e culta como MST deveria saber que não é verdade.
Mas se MST ainda confunde férias judiciais com férias dos magistrados - o que nele, repito, é indesculpável -, devia ao menos estar atento e saber que os magistrados sugeriram até ao governo que se acabasse por completo e de vez com as chamadas férias judiciais. Devia ainda perceber a razão de ser da existência das ditas férias judiciais e não embarcar neste medida populista e imbecil do governo.
Sugiro-lhe que leia com atenção o disparate pegado que é a L. 42/05 de 29/8 para perceber a enorme confusão que o governo resolveu criar e que não vai resolver nada nos tribunais nem melhorar em nada a situação daqueles que se servem ou necessitam da justiça. Muito pelo contrário, aquele diploma é uma tolice feita em cima do joelho.
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II. MST insurge-se também contra as magistraturas porque as pessoas têm de aguardar bastante para ter uma decisão e porque, "a pretexto de formalismos processuais e bizantinices jurídicas que ninguém de boa-fé consegue reconhecer como justiça", por vezes é-lhes negada razão (ou concedida, acrescento eu). Neste último ponto concordo com MST mas os formalismos e as bizantinices não são criadas pelas magistraturas e sim pelo poder político.
As magistraturas não têm nada a ver com isso, limitam-se a aplicar a lei, umas vezes bem, outras mal, mas não são elas que inventam as regras ou os prazos e isso não pode deixar de ser do conhecimento de MST, pelo que a crítica falhou completamente o alvo. Na verdade, todos nos espantamos com o sucedido em Felgueiras mas não foi aplicada nenhuma norma que não tivesse tido origem no poder político.
Do mesmo modo, MST falha o alvo quando compara a situação portuguesa com a de outros países porque naquilo a que se refere, o mal também não tem origem nas magistraturas mas sim na decisão política de ter este ou aquele tribunal aberto em comarcas que não o justificam.MST está há muito longe disto mas posso-lhe garantir que as confusões que têm sido inventadas pelos sucessivos governos, os tribunais especiais, os processos especiais, as variadíssimas formas de processo, este disparate das execuções, têm apenas dificultado a vida aos profissionais que lidam com a justiça e aos particulares que a ela recorrem, a preços cada vez mais caros.
E as demoras na produção de sentenças não podem ser medidas sem ter em consideração o número de processos que tem quem as produz, o que me parece óbvio e MST certamente concordará. Portanto, uma vez mais a questão é política e a sua resolução depende de se colocarem mais ou menos magistrados nos locais críticos, só que isso custa dinheiro que o governo não quer gastar, não depende dos magistrados (com excepção dos mandriões, claro). E custa-me ver uma pessoa como MST a misturar tudo no mesmo saco, como se a culpa de tudo fosse apenas das magistraturas.
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III. Insurge-se por fim MST contra aquilo que ele chama de "regalias" concedidas a quem escolha este "emprego". Fico surpreendido com MST. Julgava que ele tivesse consciência de que, muito particularmente neste país miserável, a liberdade e a democracia só se garantem com um poder judicial forte, que tenha os meios necessários para agir rapidamente em defesa das pessoas. E que os magistrados, por todos os motivos, devem ser bem pagos - coisa que, de resto, nem acontece - para exercerem a sua função (não confundir com "emprego").
Ou prefere MST que para as magistraturas vão os piores, os menos dotados ou dedicados, porque os melhores não estão para se sujeitar ao pacote que lhes é proposto? Queixa-se MST das magistraturas e quer piorar as coisas?
Julgo que MST não duvida que por esse país fora existam inúmeros magistrados a trabalhar em condições de meter nojo, fora de horas, com sacrifícios vários, sem receber mais por isso, sem poder receber mais de qualquer lado, sujeitando-se a coisas como - repare MST no absurdo - não poderem ausentar-se das comarcas a que estão ligados (no limite, não podem ir jantar ao concelho vizinho) ou a não poderem fazer férias quando bem lhes apetece. Não lhe parece agradável, pois não?
Uma última palavra, MST, sobre a independência e aquilo que chama irresponsabilidade dos magistrados face às decisões proferidas. MST não ignora que esta tentativa de responsabilizar os juízes no que diz respeito às decisões relativas à prisão preventiva tem um rosto e uma justificação.
Mas no dia em que o juiz proferir a sua decisão - não em função do que entende mas sim - em função do que lhe possa acontecer a ele próprio, a sua necessária independência desaparece de imediato, ao mesmo tempo que se esfumará qualquer ideia de justiça neste país.Do que conheço de MST, não é certamente isto que pretende».
In MAR SALGADO (LINK)
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«O DIREITO AO DESPERDÍCIO DE UM CRONISTA PRIVILEGIADO»
«Um tipo que escreve crónicas nos jornais e cronica na tv, escreveu hoje no Público uma série de aleivosias sobre justiça:
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Uma greve na justiça não incomoda ninguém: para aqueles que esperam um ano por um simples despacho e dez anos por uma simples sentença, uma semana de greve de juízes, magistrados do Ministério Público e funcionários não incomoda rigorosamente nada.
Hoje, os juízes e o Ministério Público podem gritar aos quatro ventos que estão a ser maltratados e desconsiderados que ninguém mexerá uma palha para os defender. Para quê defender quem não nos defende?
Nunca os incomodou o facto de o objectivo essencial da sua actividade - que é o serviço público - servir para tudo menos para cumprir a sua função.
(os juízes) são independentes, isto é, não respondem perante ninguém(…)
O que resta, então, para nos comovermos com as dores dos juízes e magistrados do Ministério Público? O muito que o país lhes deve por, simplesmente, existirem?
Hoje, os juízes e o Ministério Público podem gritar aos quatro ventos que estão a ser maltratados e desconsiderados que ninguém mexerá uma palha para os defender. Para quê defender quem não nos defende?
Nunca os incomodou o facto de o objectivo essencial da sua actividade - que é o serviço público - servir para tudo menos para cumprir a sua função.
(os juízes) são independentes, isto é, não respondem perante ninguém(…)
O que resta, então, para nos comovermos com as dores dos juízes e magistrados do Ministério Público? O muito que o país lhes deve por, simplesmente, existirem?
Miguel Sousa Tavares, in Público.
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«Nestas frases se resume a crónica de hoje, no Público, de um cronista que costuma assinar com nome feito e que assim leva a vida. São frases assassinas. Não para os visados, mas para os leitores que assim satisfazem frustrações. São frases avulsas onde perpassam ideias simplistas e do mais perfeito e acabado populismo que o próprio cronista muitas vezes diz execrar, mas cultiva com afinco naquilo que repudia, numa carambola aldrabona. São ideias que procuram capar a inteligência de quem lê e como o público leitor espera sangue na escrita, o cronista põe-lhe o alguidar na frente, também sedento e porventura satisfeito da proeza.
O resultado é o mais comum e mais corriqueiro efeito populista: acirrar ânimos contra detentores de poder, numa tendência justiceira de garrote já posto e poste ao alto. Judicial, neste caso. Noutros, político. Noutros ainda, poder de facto, seja ele qual for.
É um discurso para um antigo mercado no campo das cebolas, feito de gritos primários e atidos ao singelo dos sentidos: veja aqui, freguês! Olhe aqui estas nabiças! Ou um apelo ao apurado sentido de feira do leitor que estaca ao ouvir o pregão que vende dois cobertores pelo preço de meio. E ainda oferece um penico e um par de ceroulas. Quem lê estas afirmações, fica a pensar que a classe de magistrados é uma classe de malandros, nos dois sentidos da expressão: calaceiros e trapaceiros - ao mesmo tempo. Privilegiados também e que não merecem o que ganham, ganhando muito mais do que deviam.
Noções como poder independente de outros poderes, e que garantem direitos liberdades e garantias de cidadãos, confundem-se com “não respondem perante ninguém”, numa noção alarve mais populista do que a que se poderia ouvir na rua Escura do Porto em dia de campanha eleitoral.
A noção essencial de tribunal como órgão de soberania que aplica justiça em nome do povo, sindicaliza-se numa popularucha e apelativa reivindicação de “para quê defender quem não nos defende?”/ A afirmação gratuita de que o serviço público que os magistrados exercem, é sempre um exercício em proveito de algo excepto do bem público é o corolário desta crónica maledicente em tonalidade despeitada e sem ponta por onde se pegue para dar a ideia precisa do problema da Justiça.
É uma crónica rasteira nas intenções que aparecem como honestas mas ludibriam o próprio cronista. Bastar-lhe-ia reflectir uns segundos na carga das afirmações feitas e no vazio de sentido que transportam, para além do efeito garantidamente popularucho. Bastar-lhe-ia atentar que ao dizer que “uma greve na justiça não incomoda ninguém”, está a deslegitimar e a pôr a nu a chico-espertice de um governo que requisita civilmente funcionários judiciais em greve, para “serviços mínimos”!
Não é a primeira vez que o cronista procura arrasar tribunais, justiça, magistrados e outros profissionais, em crónicas de vão de escada. Em certa altura da croniqueta aleivosa, refere-se ao estatuto profissional do juiz, para deixar implícito que ganha fortunas para aquilo que faz. É altura de alguém lhe perguntar quanto ganha por escrever estas aldrabices! E se merece o que ganha…»
In GRANDE LOJA DO QUEIJO LIMIANO (LINK)
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ASSOCIAÇÃO EUROPEIA DE MAGISTRADOS PREOCUPADA COM SITUAÇÃO DA JUSTIÇA PORTUGUESA
«A Associação dos Magistrados Europeus para a Democracia e Liberdades (MEDEL), reunida hoje na Polónia, manifestou-se preocupada com a situação da Justiça em Portugal e com o risco de o equilíbrio estatutário dos magistrados ser posto em causa.
Na reunião da MEDEL, que agrupa associações de magistrados de dez países europeus, Portugal foi representado pelo presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), António Cluny, que relatou a situação actual da Justiça portuguesa, com greves dos magistrados e funcionários públicos em protesto contra medidas governamentais para o sector.
Na reunião da MEDEL, que agrupa associações de magistrados de dez países europeus, Portugal foi representado pelo presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), António Cluny, que relatou a situação actual da Justiça portuguesa, com greves dos magistrados e funcionários públicos em protesto contra medidas governamentais para o sector.
Numa declaração sobre a situação portuguesa, a MEDEL sublinhou que o estatuto dos juízes e magistrados do Ministério Público portugueses consagra princípios avançados de independência e de autonomia que constituem uma referência na Europa. "Esses estatutos instituem igualmente um equilíbrio essencial entre direitos e deveres profissionais", refere a MEDEL em comunicado.
A associação sublinha que para "garantir esta independência e autonomia numerosas declarações internacionais proclamam a necessidade de estabelecer um conjunto de direitos estatutários que garantam, no seio de cada Estado e de cada sociedade, a dignidade da função de magistrado".
"A MEDEL constata que existe um greve risco de ver este equilíbrio estatutário posto em risco em Portugal", refere a estrutura europeia em comunicado.
Em consequência, a MEDEL manifesta a sua "inquietação perante a evolução da situação portuguesa e insiste sobre a necessidade de manter a coerência dos estatutos dos juízes e magistrados do Ministério Público, designadamente cuidando de preservar os direitos de que beneficiam"».
In PÚBLICO ON-LINE (LINK)
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Nota: Segue texto original da resolução divulgado pela MEDEL (em francês)
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MEDEL - MAGISTRADOS EUROPEUS PARA A DEMOCRACIA E LIBERDADE - RESOLUÇÃO A PROPÓSITO DA ACTUAL SITUAÇÃO DA JUSTIÇA EM PORTUGAL
«DECLARATION DE MEDEL AU SUJET DE LA SITUATION PORTUGAISE
Le Conseil d’administration de MEDEL (Magistrats Européens pour la démocratie et les Libertés), réuni à Cracovie le 30 septembre 2005, informé de la situation actuelle de la justice portugaise a adopté la résolution suivante .
1. Les statuts des juges et des membres du Parquet portugais consacrent des principes avancés d’indépendance et d’autonomie qui constituent une référence en Europe.
2 . Ces statuts instituent également un équilibre essentiel entre droits et devoirs professionnels.
3. Pour garantir cette indépendance et cette autonomie, de nombreuses déclarations internationales proclament la nécessité d’établir un ensemble de droits statutaires et garantissent au sein de chaque Etat et de chaque société la dignité de la fonction de magistrat.
4. MEDEL constate qu’un grave risque existe de voir cet équilibre statutaire mis en cause aujourd’hui au Portugal.
5. MEDEL manifeste en conséquence, son inquiétude devant l’évolution de la situation portugaise et insiste sur la nécessité de maintenir la cohérence des statuts des juges et des magistrats du parquet et plus particulièrement de veiller à préserver les droits dont ceux-ci bénéficient.
* MEDEL regroupe des associations de magistrats (juges et ministère public) de Allemagne, Belgique, Chypre, Espagne, France, Grèce, Italie, Pologne, Portugal et République Tchèque. MEDEL est dotée du statut consultatif auprès du Conseil de l’Europe. LINK
Le Conseil d’administration de MEDEL (Magistrats Européens pour la démocratie et les Libertés), réuni à Cracovie le 30 septembre 2005, informé de la situation actuelle de la justice portugaise a adopté la résolution suivante .
1. Les statuts des juges et des membres du Parquet portugais consacrent des principes avancés d’indépendance et d’autonomie qui constituent une référence en Europe.
2 . Ces statuts instituent également un équilibre essentiel entre droits et devoirs professionnels.
3. Pour garantir cette indépendance et cette autonomie, de nombreuses déclarations internationales proclament la nécessité d’établir un ensemble de droits statutaires et garantissent au sein de chaque Etat et de chaque société la dignité de la fonction de magistrat.
4. MEDEL constate qu’un grave risque existe de voir cet équilibre statutaire mis en cause aujourd’hui au Portugal.
5. MEDEL manifeste en conséquence, son inquiétude devant l’évolution de la situation portugaise et insiste sur la nécessité de maintenir la cohérence des statuts des juges et des magistrats du parquet et plus particulièrement de veiller à préserver les droits dont ceux-ci bénéficient.
* MEDEL regroupe des associations de magistrats (juges et ministère public) de Allemagne, Belgique, Chypre, Espagne, France, Grèce, Italie, Pologne, Portugal et République Tchèque. MEDEL est dotée du statut consultatif auprès du Conseil de l’Europe. LINK
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A RAZÃO DO LADO DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA
«COMUNICADO DO SFJ:
Depois da enorme adesão à greve de ontem, em que mais de 90% dos funcionários aderiram, o Ministério da Justiça e o Conselho de Ministros, de forma inaceitável, lançaram mão de um conjunto de medidas com a intenção objectiva de criar um clima de confusão e coacção nos tribunais, porque constataram que, afinal, a nossa indignação é legítima, tem motivos e estamos unidos e determinados.
Despacho Conjunto de 2005.09.23, dos Ministérios da Justiça e do Trabalho e da Solidariedade Social.
1.1 Desproporcionalidade na designação dos recursos humanos para assegurar os serviços mínimos estabelecidos – um por cada secção/juízo. Significa isto que em alguns Tribunais tinham que estar presentes sete, oito ou mais funcionários quando nos turnos de sábado a lei apenas designa dois para assegurar os mesmos serviços.
1.2 O despacho vai ainda mais longe: atribui aos magistrados a possibilidade de poderem designar mais funcionários, sem limite, se o entenderem!! Trata-se de uma competência ilegítima e que é propícia a criar conflitualidade desnecessária entre oficiais de justiça e magistrados.
Despacho Conjunto de 2005.09.23, dos Ministérios da Justiça e do Trabalho e da Solidariedade Social.
1.1 Desproporcionalidade na designação dos recursos humanos para assegurar os serviços mínimos estabelecidos – um por cada secção/juízo. Significa isto que em alguns Tribunais tinham que estar presentes sete, oito ou mais funcionários quando nos turnos de sábado a lei apenas designa dois para assegurar os mesmos serviços.
1.2 O despacho vai ainda mais longe: atribui aos magistrados a possibilidade de poderem designar mais funcionários, sem limite, se o entenderem!! Trata-se de uma competência ilegítima e que é propícia a criar conflitualidade desnecessária entre oficiais de justiça e magistrados.
Ofício-Circular nº. 43/2005 da Direcção-Geral da Administração da Justiça.
2.1 Reforça aqui a desproporcionalidade dos recursos humanos em relação aos serviços mínimos a assegurar, num claro afrontamento à classe dos oficiais de justiça, ferindo seriamente a sua dignidade – ponto nº. 3, 1º.
2.2 Também aqui foram chamados os Srs. Magistrados a usar o seu poder discricionário sobre os oficiais de justiça e sobre os serviços a assegurar, novamente, numa clara postura divisionista.
Ofício-Circular nº. 44/2005 da Direcção-Geral da Administração da Justiça.
3.1 Refira-se aqui a estranha coincidência da publicação de um movimento de oficiais de justiça, do mês de Fevereiro, precisamente na data em que se iniciou a greve decretada.
3.2 Tal facto serviu apenas para criar grande pressão dada a extrema complexidade jurídica relativa à data limite para as respectivas tomadas de posse.
Some-se a tudo isto, uma série de mensagens electrónicas e telefonemas da Administração da Justiça a coagir os oficiais de justiça de forma a amedrontar e com implícita ameaça de procedimentos disciplinares.
Finalmente a requisição civil decretada ontem pelo Conselho de Ministros, que mais não veio confirmar e corroborar todo o histórico atrás descrito. De facto o despacho da referida requisição civil mais não é do que a reposição de uma série de ilegalidades e pressões e coações, mais pretendendo impor que em vez de serviços mínimos sejam, sim, cumpridos “serviços máximos”.
Todas estas situações criaram e continuam a criar enorme confusão e um clima de difíceis relações de trabalho a que urge pôr termo. São inúmeras as informações que vamos recebendo dos Tribunais sobre a dificuldade na articulação e cumprimento da respectiva requisição civil que em muitos casos apenas cria conflitualidade entre colegas.
É importante limpar o caminho que, lamentavelmente, a Administração da Justiça e o Conselho de Ministros enlamearam.
O Sindicato reuniu com o Gabinete Jurídico, no sentido de avaliar eventuais implicações decorrentes da autêntica confusão instalada nos tribunais e eventuais situações disciplinares decorrentes dessa mesma confusão, tendo também sido analisada a questão jurídica subjacente às posses relativas ao movimento ontem publicado.
Assim, em reunião extraordinária do Secretariado Nacional do SFJ, deliberou-se o seguinte:
Considerando que os principais objectivos desta greve eram
· a denúncia pública das deficiente condições de trabalho em que desempenhamos as nossas funções diariamente nos tribunais;
· o esclarecimento da opinião publica de que é mentira a permanente acusação deste Governo de que temos privilégios injustificados;
· a denúncia de que este Governo nada fez até agora para resolver os verdadeiros problemas da Justiça: a falta de funcionários, a formação, as alterações legislativas, etc., mas continua a adoptar medidas que apenas pretendem afrontar e desconsiderar uma classe que trabalha com empenho e dedicação;
· a demonstração inequívoca de que os funcionários judiciais estão unidos e conscientes das suas razões e por isso aderiram de forma inequívoca à greve e à manifestação;
· que a continuação desta greve nos próximos dias 3 e 4 de Outubro, sob a coação e pressão de requisição civil já referida, e atentos os seus termos, apenas serviria, agora, para criar um clima de confusão e divisão na nossa classe, como temos constatado durante o dia de hoje;
2.1 Reforça aqui a desproporcionalidade dos recursos humanos em relação aos serviços mínimos a assegurar, num claro afrontamento à classe dos oficiais de justiça, ferindo seriamente a sua dignidade – ponto nº. 3, 1º.
2.2 Também aqui foram chamados os Srs. Magistrados a usar o seu poder discricionário sobre os oficiais de justiça e sobre os serviços a assegurar, novamente, numa clara postura divisionista.
Ofício-Circular nº. 44/2005 da Direcção-Geral da Administração da Justiça.
3.1 Refira-se aqui a estranha coincidência da publicação de um movimento de oficiais de justiça, do mês de Fevereiro, precisamente na data em que se iniciou a greve decretada.
3.2 Tal facto serviu apenas para criar grande pressão dada a extrema complexidade jurídica relativa à data limite para as respectivas tomadas de posse.
Some-se a tudo isto, uma série de mensagens electrónicas e telefonemas da Administração da Justiça a coagir os oficiais de justiça de forma a amedrontar e com implícita ameaça de procedimentos disciplinares.
Finalmente a requisição civil decretada ontem pelo Conselho de Ministros, que mais não veio confirmar e corroborar todo o histórico atrás descrito. De facto o despacho da referida requisição civil mais não é do que a reposição de uma série de ilegalidades e pressões e coações, mais pretendendo impor que em vez de serviços mínimos sejam, sim, cumpridos “serviços máximos”.
Todas estas situações criaram e continuam a criar enorme confusão e um clima de difíceis relações de trabalho a que urge pôr termo. São inúmeras as informações que vamos recebendo dos Tribunais sobre a dificuldade na articulação e cumprimento da respectiva requisição civil que em muitos casos apenas cria conflitualidade entre colegas.
É importante limpar o caminho que, lamentavelmente, a Administração da Justiça e o Conselho de Ministros enlamearam.
O Sindicato reuniu com o Gabinete Jurídico, no sentido de avaliar eventuais implicações decorrentes da autêntica confusão instalada nos tribunais e eventuais situações disciplinares decorrentes dessa mesma confusão, tendo também sido analisada a questão jurídica subjacente às posses relativas ao movimento ontem publicado.
Assim, em reunião extraordinária do Secretariado Nacional do SFJ, deliberou-se o seguinte:
Considerando que os principais objectivos desta greve eram
· a denúncia pública das deficiente condições de trabalho em que desempenhamos as nossas funções diariamente nos tribunais;
· o esclarecimento da opinião publica de que é mentira a permanente acusação deste Governo de que temos privilégios injustificados;
· a denúncia de que este Governo nada fez até agora para resolver os verdadeiros problemas da Justiça: a falta de funcionários, a formação, as alterações legislativas, etc., mas continua a adoptar medidas que apenas pretendem afrontar e desconsiderar uma classe que trabalha com empenho e dedicação;
· a demonstração inequívoca de que os funcionários judiciais estão unidos e conscientes das suas razões e por isso aderiram de forma inequívoca à greve e à manifestação;
· que a continuação desta greve nos próximos dias 3 e 4 de Outubro, sob a coação e pressão de requisição civil já referida, e atentos os seus termos, apenas serviria, agora, para criar um clima de confusão e divisão na nossa classe, como temos constatado durante o dia de hoje;
O Secretariado Nacional do S.F.J. reunido extraordinariamente decidiu:
1. Impugnar contenciosamente o respectivo despacho da requisição civil, tendo já solicitado para o efeito a colaboração de ilustre advogado;
2. Desconvocar a greve de 3 e 4 /10, sem prejuízo do apelo a todos os associados para que, em articulação com o sindicato divulguem nesses dias, o mais amplamente possível, e em particular junto dos cidadãos as justas razoes da nossa luta.
3. Reafirmar a disposição de continuar uma luta que é mais do que justa e assim, desde já marcar greve para o próximo dia 26/10, fazendo coincidir o dia com a greve já marcada pela Associação Sindical dos Juízes e pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, e apelando a que adesão à mesma seja ainda mais maciça do que esta alcançou.
Não se trata de nenhuma cedência, mas apenas uma alteração de estratégia deixando o Sr. Ministro “com a requisição civil” na mão”!!
Se o governo não demonstra clarividência para gerir a instabilidade por ele próprio criada, assumimos nós essa responsabilidade no sentido de estabilizar os serviços da justiça».
1. Impugnar contenciosamente o respectivo despacho da requisição civil, tendo já solicitado para o efeito a colaboração de ilustre advogado;
2. Desconvocar a greve de 3 e 4 /10, sem prejuízo do apelo a todos os associados para que, em articulação com o sindicato divulguem nesses dias, o mais amplamente possível, e em particular junto dos cidadãos as justas razoes da nossa luta.
3. Reafirmar a disposição de continuar uma luta que é mais do que justa e assim, desde já marcar greve para o próximo dia 26/10, fazendo coincidir o dia com a greve já marcada pela Associação Sindical dos Juízes e pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, e apelando a que adesão à mesma seja ainda mais maciça do que esta alcançou.
Não se trata de nenhuma cedência, mas apenas uma alteração de estratégia deixando o Sr. Ministro “com a requisição civil” na mão”!!
Se o governo não demonstra clarividência para gerir a instabilidade por ele próprio criada, assumimos nós essa responsabilidade no sentido de estabilizar os serviços da justiça».
In site do SFJ
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PRIVILÉGIOS DOS JUÍZES OU O REINO DA IGNORÂNCIA
«O sector da justiça tem sido alvo de sucessivos ataques.
Na melhor das hipóteses, tudo não passa de um completo desconhecimento do que realmente significa o poder judicial e em que consiste a função dos juizes.
Na pior, trata-se do mais primitivo desejo de subjugar tudo o que nos é contrário.
Neste momento histórico em que vivemos, as fronteiras entre o real e o virtual quebraram-se, dando lugar a um mundo onde o bom senso e os valores adquiridos deixaram de reinar.
Para inverter esta tendência, dou conta do dia-a-dia não virtual de um juiz, a exercer funções num tribunal da periferia de Lisboa.
Trabalha num gabinete, como tantos outros juizes.
Mas a impressora que tinha ao seu dispor deixou de funcionar: recusou-se a trabalhar e suspeita-se que não foi por solidariedade com a greve dos funcionários judiciais.
Comunicada a situação à Direcção Geral da Administração de Justiça não foi obtida ainda qualquer resposta.
Os processos conclusos, numa média diária que ronda os 70 a 80, não são, porém, solidários e têm vindo a ser despachados, há já quatro dias, pelo próprio punho do juiz.Em desespero de causa, o juiz quis trazer a sua impressora pessoal, mas logo desistiu, porque não havia verba para comprar tinteiros...
A ignorância, enfim, útil!